A exposição Estados Alterados reúne artistas cuja produção converge para diferentes possibilidades da representação. Seja através da imagem mecânica, que aparece como elemento fundamental das poéticas aqui apresentadas, seja através de outras linguagens coadjuvantes, como o desenho, o objeto ou a pintura.
Ao mesclar imagens e objetos, Dione Veiga Vieira lida com autorrepresentações que captam estados de estranheza, remetendo à fotografia espectral ou às realidades oníricas paralelas. São imagens alteradas na cor e nitidez, expondo também estados alterados da experiência vivida. A mesma situação aparece nos exercícios de autorretrato de Glaucis de Morais, tanto nas sobreposições fotográficas de silhuetas fluidas quanto nas aquarelas em que expõe a fragilidade do corpo. A autorreferencialidade também é apresentada por Marcela Tiboni, ao propor-se ao desafio de relacionar o seu corpo com a artificialidade da tradição iconográfica do retrato. O seu trabalho, cuja base é a fotografia, não se furta da discussão sobre o hibridismo dos meios, aproximando-se da pintura e da performance.
Para Mariana Silva da Silva os estados alterados se configuram pelo viés da temporalidade alargada da imagem videográfica, pelas fotografias combinadas com textos de caráter non sense ou, ainda, pelos desenhos sutis de manchas, que propõem situações de marcada ambiguidade, revelando um interesse sobre o olhar e os espaços ficcionais de subjetividade. Indo ao encontro das mesmas provocações, os trabalhos fotográficos de Sarah Bliss e Kim Fielding mostram-se, no entanto, mais radicais. Em sua flagrante violência ficcional, eles se concentram na dramatização de situações do corpo como invólucro que acolhe a condição psíquica ou espiritual das situações-limite.
Se o uso cada vez mais acelerado de imagens no quotidiano acarreta a necessidade de pensarmos sobre o seu papel, a mostra em questão torna-se uma importante oportunidade. Sobretudo, se lembrarmos que o fio condutor dos trabalhos aqui expostos conduz à reflexão sobre a crise da realidade e seu devir imagem no mundo contemporâneo.
Alexandre Santos – Junho de 2011
Historiador e Crítico de Arte, Professor e Pesquisador do Instituto de Artes – UFRGS.